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Panapaná

  • Foto do escritor: Vera Purcina
    Vera Purcina
  • 17 de jun. de 2020
  • 2 min de leitura

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Quando ele me chamou para ver, eu nem imaginava o que poderia ser...


- Vem, Vera, ver o que tem aqui!


Abriu a porta da sala novinha, recém pintada e olhou para o teto indicando a direção que eu deveria olhar. Que surpresa! Ali no alto, bem no cantinho da parede, nascia uma borboleta.


Eu a vi saindo do casulo!!!


Escorria um líquido rosado -será sangue de borboleta?- estranho... enigmático...


Encantados, ficamos em silêncio. Assistindo.

Depois, saímos devagarinho e fechamos a porta, em respeito aquele momento alheio tão íntimo.


As borboletas sempre me emocionam. São tão delicadas e frágeis...parecem flores voando. Aproximam devagar, batendo as asinhas e sugam as corolas com tanto cuidado...


Quando criança, eu brincava de correr atrás delas... peguei muitas na mão. Soltam um pozinho que nunca deveria levar à boca (minha mãe ensinava). Diziam que elas são anjos da guarda que zelam por nós. E que dão uma sorte danada (-será por isso que sempre me achei sortuda? ). Outros, diziam que trazem mensagens espirituais. São místicas, encantadas...

Acredito! E agradeço!


Tão belas e cheias de conteúdos, instigam a minha imaginação. E estão sempre a me ensinar. Eu as adoro!


Para nascer, há de se ter coragem e fazer força. Querer nascer...entende? Desejar ardentemente sair daquilo que sufoca e buscar toda a força interna. Se preencher inteiro dela...para nascer!

E, sem meias verdades, cada um nasce é sozinho mesmo. Em um movimento intimo e singular.


Para voar, há de ser leve. E, para ser leve, equilibrar o próprio tamanho com o vento. Compreender esta relação entre o próprio corpo com o espaço em volta. É alcançar um nível de auto percepção refinado: se se é grande ou pequeno, largo ou estreito e equacionar, cineticamente, o interno com o externo em movimentos. Encontrar daí a posição perfeita, seu lugar no mundo.


Para encantar, há de se colorir. Agitar-se com alegria, entusiasmo e suavidade... deixar-se confundir com as flores, ser seu próprio alimento. Realimentar-se...pétalas finas, caules fortes, raízes profundas! Falo de se nutrir, de suas histórias, memórias, devaneios, sonhos.


Enfim, para viver, há de se querer viver. Desejar sair da crisálida, do embotamento, sujar-se com o próprio sangue do crescimento e deixá-lo escorrer, indo embora. Limpar-se, fazer uma pausa, ensaiar o abrir e fechar das asas, respirar e se abrir para o novo, respirar e angariar forças, respirar e descansar do esforço feito até agora, respirar e alçar voo...


O que é o viver, senão se entregar e voar?


Aguardo minha próxima aula... eu sei que ela vai chegar... a próxima borboleta virá me fascinar. Enquanto espero calmamente, faço minha lição de casa!


Vera Purcina

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