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Dia das Crianças

  • Foto do escritor: Vera Purcina
    Vera Purcina
  • 12 de out. de 2019
  • 2 min de leitura

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Acendi apenas as luzes amarelas, o que fez ressaltar o clima do campo. Fazia um calor aconchegante, queria ver o anoitecer dali, ao ar livre.


Ouvi a algazarra dos pássaros e depois o seu silenciar. Acompanhei, surpresa, os voos dos casais das maritacas... voavam juntinhos até se recolherem! Essa natureza é mesmo um encantamento só! 


Depois, ouvi apenas as cigarras. Muito barulhentas!!! Não sei como meu filho não acordou... 


Viajei no tempo enquanto o observava na rede da varanda.


Desde pequeno falava que não existe apenas um dia, no ano, para comemorar o que quer que seja. E quando era o aniversário de algum amigo... dava aquele abraço gostoso, mas presente? Que nada! Ele se recusava a dar um mimo que fosse! E também não gostava de comemorar quando chegava a data do seu nascimento. Era um sufoco! Lembro uma vez que as irmãs, animadinhas, resolveram fazer uma festa surpresa e convidaram todos os amiguinhos da classe dele! Pra que? Levaram a maior bronca e ele ficou quase um mês de cara virada com elas! 


Mas sabia ser amigo e estava sempre trocando figurinhas e ajudava os colegas na classe.


E é assim até hoje! Amigo sim, de todas as horas! Aquela pessoa que, quando você está alegre quer lhe contar e quando está triste, também. Que você faz questão de trocar uma ideia, ouvir sua opinião. Enfim, que é presente com sua presença!


Cai em mim: o tempo passou e já não há nenhum pequeno em casa! 


Apenas através de recordações, poderia me conectar com as crianças que meus filhos foram.


Senti saudades e visitei a infância. Como criança, olhei para todas as outras que carrego dentro de mim.


Desejei, quase em oração, que sejam esperadas antes de formadas e que, por isso, possam nascer. Que sejam aceitas e cresçam sadias, tenham comida e sejam alimentadas. Sejam respeitadas e não coisificadas por interesses econômicos, políticos ou sociais. Que recebam educação em casa e nas escolas e aprendam a pensar, a interpretar, a ler a realidade. 


Desejei que os adultos (nós) façamos um exercício de trocar de lugar com elas, para perceber a fragilidade do seu ego e, ao mesmo tempo, a grandeza dos seus sonhos e da sua criatividade. A sua necessidade de segurança e, ao mesmo tempo, a indispensabilidade de se lapidar suas emoções tão primitivas. 


Desejei que não tenham medo de errar, mas que procurem fazer o certo. Que aprendam a importância dos valores éticos e morais. Que conservem seus corpos virgens até decidirem florescer.  Que sejam sementes e possam ter tempo para viverem semente. E que o adubo usado seja o respeito por suas vidas. 


Desejei, enfim, que sejam amadas, acolhidas e possam ter com quem contar.


Neste dia, distante da roda viva e do burburinho urbano, não comprei nenhum presente. Mesmo porque não encontraria em lojas comerciais a mudança de atitude necessária: sair da sedutora sociedade consumista. 


Perceber que todos os dias são dias das crianças, são dias de todos; E a urgência de cuidarmos, sistematicamente, repetidamente, solidariamente e respeitosamente, uns dos outros; com gratidão, zelarmos pela vida humana!


Vera Purcina

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