Bignoniacea - Os ipês
- Vera Purcina

- 9 de set. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 30 de abr. de 2020

Até pouco tempo atrás, pensava que minha fascinação por eles, era fruto de uma infância bem vivida no interior de M.G.; que era porque cresci acostumada a ver a "Praça da Matriz" cheinha dos ipês amarelos!
Mas que engano o meu!
Os ipês, na verdade, são tão bonitos, porque sempre espelharam a vida! E, mais que isso, me ensinam, a todo momento, sobre a morte que carrego dentro de mim!
Mostram que atravesso fases, tal qual as estações do ano. Que tem a época que estresso, emagreço, penso que vou morrer. Que tem a fase da colheita, da fartura do riso, dos encontros com os amigos. Que, às vezes, estou bem sozinha e curto adoidada a minha liberdade de ir e vir. Que o tempo está aí e eu passando por ele, como uma folha que desprega do tronco num dia de outono e vaga ao sabor do vento...
Os ipês refletem meu contínuo renascimento depois de cada dor, de cada caída, de cada inverno que eu murcho e sofro e que penso que vou definhar porque não estou mais aguentando! Aí, de uma hora para outra ( porque nem sempre sei o que acontece comigo), saio da minha surdez e do meu ensimesmamento: ouço uma voz amiga, pego carona na contra mão de uma música mais animadinha, sinto o aroma que vem das cozinhas da rua em que passo e recomeço a ver as cores. Os diversos tons do amarelo, rosa, lilás e o branco ... e percebo alternativas, oportunidades e, enfim, que tenho salvação.
Amo os ipes! Admiro os ipês!
Contrariando a natureza, as flores do ipê desabrocham em dias secos e cinzentos do inverno. Tal qual aprendo continuadamente com os ipês, percebo também, no meu trabalho diário da psicologia, que a força do emocional humano é obtida através de um processo de vida, através do tempo, através de estações de ventos, chuvas, sol e lua!
Muitas vezes, é apenas durante um processo de psicoterapia que ocorre a oportunidade para a pessoa elaborar seus sentimentos.
Através da sua fala, do seu exteriorizar, do compartilhamento de suas experiências, ela vai reorganizando e dando novos significados às suas vivências. Vai lidando com a sua angústia de morte e, simultaneamente, deixando brotar o seu desejo de vida!
Em psicanálise, estas polaridades, amor e ódio, sexualidade e agressividade, vida e morte são forças que habitam o ser humano e estão presentes no cotidiano, nos conflitos mais simples e banais quanto nos mais mórbidos e sublimes da humanidade.
Estes pares de opostos se fazem presentes, fundidos em tudo o que o ser humano faz, pensa e sente.
Para Freud: " ... devemos ser capazes de passar sobre as palavras do bem e do mal. Cada um desses instintos é tão indispensável quanto o seu oposto, e todos os fenômenos da vida derivam de sua atividade”.
Isso tudo independe da quantidade de remédios que a pessoa ingere; não importa quantos livros de auto ajuda ela leia, quantos cursos e coaching há em sua vida...
Enfim, bignoniaceando..
Geralmente, o processo psicoterapico não é rápido; uma boa elaboração mental, emocional, social, corporal, energética, etc..., não acontece de forma imediata e mágica.
Todo processo de fortalecimento e equilíbrio leva tempo para acontecer!
E acreditar que tudo passa, o tempo passa e, mais cedo ou mais tarde, o sentimento florescerá e suas cores farão parte da imensa aquarela pintada pelas mãos de Deus!
Se for preciso, buscar por escutas profissionais para melhor compreensão e elaboração das vivências e angústias.
Vera Purcina




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