A visita de Aion

Aion veio nos visitar e trouxe de presente a completude do aqui e agora. A sensação de se ter vivido tudo em um dia só, completo!

Deus mitológico helênico, do tempo ilimitado do instante, é bem diferente de Chronos, o deus do tempo empírico dividido em passado, presente e futuro.

Entrou em casa já mostrando que o dia amanhecia brilhoso. Sol quentinho no quintal, música maneira do João Gilberto no violão, as borboletas proporcionando movimentos coloridos no jardim e o céu azulzinho, sem uma nuvem sequer.

Da casa ao lado, o som da missa dominical, com seus cantos e rezas ritmadas, pareciam confirmar que o dia seria folgado, de deleite e descanso. Meio sagrado, até!

O cheirinho do café atraia toda a atenção do olfato mineiro e chegou com o pão de queijo recheado de requeijão. A calma imperou na preguiça matutina deliciosa da bossa nova deitada na rede.

Mas a tarde foi diferente! Teve futebol e forró. Teve outra animação, risada e conversação. Teve comida farta e doce improvisado de chocolate com afeição.

Depois sim, a novidade programada para o dia. Leite gelado com creme de café misturado. Aquele café delicioso, cremoso! Ave Maria! Ele era só sorrisos e simpatia. Estava bom demais, descia gostoso, forte e saboroso, harmonizado!

Nisso, a tardinha já se despedia. O horizonte do outono trazia os tons de rosa e amarelo, numa aquarela sem igual. A bola parada na varanda...a toalha úmida jogada no banco, o barulho silenciou, a noite chegou.

Mas o banho aconchegante previa que o dia ainda não acabara, era apenas um intervalo entre as surpresas! Apesar de desejar parar, o cheiro forte dos bifes do jantar no ar exigiu que as janelas e a varanda fossem reabertas.

Avistada a lua nova, magnifica, com Vênus ao seu lado, era um convite para o passeio noturno. Os olhos não desviavam da luz prateada das estrelas... e, de repente, aquela fila, comprida, de pontinhos luminosos lá no céu... um monte de satélites enfileirados, passeando em órbita!

Desfilando sua beleza no céu, parece que vinham nos lembrar de despedir do dia, alertando da hora avançada para cerrarmos os olhos, de adentrarmos na escuridão misteriosa dos bons sonhos!

Aion, é mesmo incrível! De vez em quando, vem nos visitar.

E todas as vezes, nos faz viver assim, tão intensamente, a ponto de esquecermos as dificuldades, os medos, a angústia, a tristeza, a ansiedade, fazendo-nos distrair e desfocar da urgência e crueldade de Chronos.

Ele, geralmente, vem nos lembrar do nosso poder.

Poder de escolher entre o sim e o não, positivo e negativo, entre o ânimo ou a paralisação em vida. Ele vem permitir que esses sentimentos brotem dentro de nós e se exteriorizem em foma de impulsos de vida. Ensina a abrir as portas do coração, sermos hóspedes e hospitaleiros. Agradecidos, enfim, de estarmos aonde estamos, sintonizados no exato instante do aqui e agora!

Finalmente entramos e fechamos a casa. Ainda pude ver Aion, indo embora, pouco antes de dormir.

Este, foi um dia inspirado, em que cada momento se bastou!

Sei que Aion, como deus, podia estar em outras casas também... Quando acreditamos nele e lhe damos um voto de confiança, ele mostra suas forças transcendentais que jamais conseguiríamos imaginar!

E, sendo bem honesta, se eu pudesse, grudaria nele! Ou o carregaria dentro do meu bolso para me acompanhar aonde eu bem estivesse...

Acho que, neste dia, ele não aguentou de vontade e quis vir brincar, fazer arte conosco. Veio fazer uma rima com a nossa fé e tomar café!

Vera Purcina