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Entendendo a Síndrome de Burnout

  • Foto do escritor: Vera Purcina
    Vera Purcina
  • 11 de ago. de 2019
  • 4 min de leitura

Atualizado: 30 de abr. de 2020




Trabalho é o exercício constante do ser humano onde ele exterioriza, desempenha e desenvolve seu potencial criativo, tanto fisicamente, como mental, emocional e socialmente. O trabalho faz parte do desenvolvimento e da constituição da identidade das pessoas.


No decorrer da história, mais precisamente após a Revolução Industrial, o trabalho foi se confundindo com aquela atividade remunerada ou assalariada que, muitas vezes, vinha carregada de subserviência ou de obediência à outrem. Isso causou uma confusão entre os 2 termos: trabalho e emprego. Ora, o trabalho é uma forma de expressão criativa do ser humano para atingir um determinado fim. O emprego, por sua vez, é quando se remunera o trabalho da pessoa, mas não é ela que determina os objetivos da sua ação. Neste caso, as metas do seu trabalho são determinadas por seu empregador.


"O trabalho dignifica o homem", já dizia Benjamin Franklin. O emprego, por sua vez, quando não bem administrado, pode transformar o ser humano em mero executor ou reprodutor de ações, tirando-lhe toda e quaisquer possibilidades de criação espontânea. Sendo assim, não raras vezes, o empregado pode sofrer intensas e repetitivas frustrações. Dependendo da sua estrutura egoica, da sua personalidade e ou características individuais, a sua área emocional, por vezes, chega a adoecer gravemente.


Mesmo sentindo-se bem nas outras esferas da sua vida, seja na família, nos estudos, no círculo social, o empregado começa a sentir grande mal estar momentos antes de ir ou quando vai para o seu emprego. Está adoecendo emocionalmente e somente na área profissional. Fragilizado e inseguro, geralmente sente a ameaça do desemprego e não enxerga outra saída a não ser se calar e se submeter àquelas condições profissionais que lhe fazem tanto mal. Vai assim, desenvolvendo um estresse negativo à medida que o tempo passa, e já não se sente útil e participante, está sim, sufocado por um chefe ou pressionado por metas inatingíveis sem apoio e orientação. Sua qualidade de vida, geralmente, cai consideravelmente.


Atualmente, muitas atividades do mundo corporativo ocasionam lesões por esforços repetitivos e assiste-se o grande empenho da medicina em tratar esses casos no sentido de manter o empregado curado, mais realizado e, sobretudo, produtivo. Podemos presumir que, com a evolução do capitalismo, da produção em massa e do aumento do tecnicismo, o caminho que se tomou foi no sentido inverso do trabalho saudável e não no sentido do deslocamento natural da energia produtiva do ser humano.


O avanço tecnológico e as rápidas mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas alteraram o mercado de trabalho, fazendo surgir novas profissões e desaparecer outras, mudando a forma de se realizar e de se relacionar com ele. Os padrões profissionais das antigas gerações foram quebrados: a fidelidade ao empregador, separar a vida pessoal da vida profissional e o dever do prazer. Hoje em dia, as exigências e auto cobranças aumentaram; muitas pessoas trabalham em mais de uma atividade simultaneamente, muitos trabalham por demandas, por metas, fazem home office, misturam a vida profissional com a pessoal, trabalham os sete dias da semana. Estão conectados às informações o tempo todo através da internet, procuram por empregos estimulantes, que lhes proporcionem prazer. Almejam um infinito desenvolvimento pessoal, crescimento na carreira, alta remuneração. E, praticamente, não param.


Essas atitudes, se prolongadas ao longo do tempo, podem ultrapassar os limites pessoais, gerando cada vez mais auto cobranças e frustrações pessoais, constante sensação de cansaço, sofrimento e insatisfação profissional, chegando a comprometer

a qualidade de vida.


A definição de Burnout (SBO) na CID-11 é: “Burnout é uma síndrome conceituada como resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso.” Refere-se especificamente a fenômenos no contexto ocupacional e não deve ser aplicada para descrever experiências em outras áreas da vida.


O termo "burnout" (do inglês, significa "esgotamento completo") e descreve a sensação de exaustão de uma pessoa. É um desgaste que prejudica os aspectos físicos e emocionais da pessoa, caracterizado pelo estado de tensão emocional misturado à depressão.


A SBO é mais comum em pessoas perfeccionistas, bem dispostas, que gostam de assumir responsabilidades. Pode levar anos para atingir seu grau máximo, mas a síndrome vai dando sinais no decorrer do seu desenvolvimento. Fisicamente, surgem problemas de saúde como, por exemplo, dores musculares, dor de cabeça, náuseas, infecções urinárias, alterações do sono, diminuição do apetite e do desejo sexual, palpitações, sudorese intensa, distúrbios gastrointestinais, gastrite nervosa, aliterações na pressão arterial, problemas na pele... ficam mais desatentas, com frequentes lapsos de memória; emocionalmente, ficam mais impacientes, desanimadas, ansiosas, tristes, com baixa autoestima, isolando-se dos colegas no ambiente de trabalho.


Com o estresse prolongado e por passar a maior parte do dia trabalhando, os sintomas se intensificam podendo ocasionar descontrole emocional ou até mesmo riscos de acidentes. É comum o empregado começar a se automedicar e a trabalhar, em média,

5 horas a menos por semana. A exaustão física e emocional é sua principal característica. A vida familiar e afetiva também vai se desestruturando.


A SBO deve ser entendida como um distúrbio psicossocial, ou seja, revela uma incongruência no relacionamento do empregado com o seu trabalho. A causa, longe de ser considerada uma fraqueza pessoal do profissional , precisa sempre ser melhor investigada. O estopim do problema pode estar no sistema de trabalho da empresa que se mostra muito rígido, com exigências inalcançáveis, condução inadequada dos funcionários, que se sentem sem reconhecimentos e/ou com privilégios individuais

favorecendo um ambiente competitivo e destrutivo. A solução mais efetiva dependerá, portanto, sempre do esforço de ambas as partes, onde o empregado ganhará qualidade de vida e a empresa, produtividade. Talvez, uma simples reestruturação da sua rotina ou da sua carreira, como uma troca de departamento ou de cargo, evitaria a perda de talentos e/ou novas possibilidades.


O diagnóstico da Síndrome de Burnout é realizado por psicólogo e/ou psiquiatra e deve ser tratada com a associação de psicoterapia e medicação. A prática de exercícios físicos ou um hobby, ter uma alimentação saudável e buscar por momentos de lazer, além da boa convivência com a família e com a espiritualidade vão contribuir para a melhora do quadro. Às vezes há necessidade de um afastamento temporário e a sua volta ao trabalho deve ser de forma gradual. É aos poucos que o profissional vai se restabelecendo e sentindo-se à vontade con seu trabalho novamente.


É muito importante possuir certo grau de autoconhecimento e estar sempre atento às próprias emoções, pois qualquer pessoa que vivencie um trabalho sobrecarregado pode desenvolver um estresse profissionalmente e chegar a sofrer com a Síndrome de Burnout.


Caso se perceba sempre tenso no trabalho ou com os sintomas descritos acima, não hesite em procurar um profissional da área.


Vera Purcina

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